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Discurso Informativo e Cultural

TEMPOS DE CRISE

- Por José Tomás -


A futura geração vai julgar-nos. A União Europeia (EU) vai estar no banco dos réus. Quem dirige a Comunidade de Países, que constitui a actual EU, vai ter de responder por tudo o que se passa no seu território, dito sem fronteiras, e evidentemente também da sua periferia meridional – quase todos com costas banhadas pelo Mediterrâneo. Não podemos esconder o que acontece nos países do Sul desta “velha” Europa em crise grave, na intitulada estagnação económica.

Já nos bastava o que os países do Norte, apadrinhados pela Alemanha da Sra. Merkel, nos estão a fazer. A nós Portugueses, aos Italianos, Espanhóis, Gregos, sem esquecermos os cidadãos de Chipre, da Hungria e Bulgária… alguns pertencentes à União Monetária Europeia, vulgo Euro, envoltos em desesperantes memorandos “troikanos”, com austeridade inapelável (“custe o que custar”, diz Passos Coelho), por castrante Tratado Orçamental da UE, que nos empobrece irremediavelmente – temos os mais baixos salários e os maiores impostos da Europa do Euro - e que cria desemprego angustiante a muitas famílias. Então para a camada jovem (mais de 30% dos desempregados), licenciada ou tão-somente com habilitações do ensino secundário, parece que só tem uma saída esperançosa: migração, ir enriquecer outros países que aproveitam a sua força de trabalho ou preparação académica. Atente-se nisto: de 2012 a 2014 saíram mais de 400 mil trabalhadores deste rincão à beira-mar plantado. Mais que toda a mão-de-obra emigrada de Portugal nos famigerados anos sessenta do séc. passado, eivados de política salazarenta, do propalado analfabetismo e miserabilismo humilhante, de brandos costumes e repressão pidesca, com o Povo a passar fome e muitos dos seus filhos numa guerra colonial infindável e indigna, temos agora inegavelmente a apologia governamental de que só ficam cá os pretensamente empregados “por partidárias ou familiares cunhas”, os “privilegiados” em contratos precários ou a viver de subsídios infamantes… Ao que chegámos, minha gente!

Não quero deixar de referir também neste âmbito, o que está a acontecer na fronteira do extremo Sul: em pleno Mediterrâneo. Não há leis, regulamentações, nem sequer convenções que aprovem a situação trágica deste mar estar a tornar-se num cemitério para milhares de vidas humanas, vindas de um Norte de África em polvorosa, sem rei nem roque, polvilhado de terrorismos sanguinários incríveis.

Desde o Médio Oriente até ao Mali e Somália, passando por uma Líbia, Síria e Iraque, vive-se sem esperança de alguma paz, de ter para comer num futuro próximo, numa miséria pestilenta, que faz morrer e destruir tudo à sua volta. Onde está a Europa para ajudar esta gente?

A solução será deixá-los naufragar e morrerem em pleno Mediterrâneo? O Papa Francisco na sua primeira visita pontifícia foi a Lampedusa, no Sul da Itália, para chamar a atenção para o drama destes seres humanos: crianças, mulheres e homens deserdados de tudo. Os Estados Unidos da América patrocinaram com a NATO – Inglaterra e Portugal como pontas-de-lança – derrubarem os Estados não-democráticos dos despóticos Saddam (Iraque) e Kadhafi (Líbia), mas em troca semearam o terrorismo jihadista mil vezes pior: veja-se a Síria e o Iémem. Tudo isto nos envergonha. Somos cúmplices silenciosos deste genocídio.

Havia tanta coisa para se dizer, mas deixo somente uma pergunta: quem está a lucrar com a exploração sem limites dos barris de crude destes Estados “falhados”, que ficaram nas mãos das petrolíferas americanas e inglesas, que baixaram indiscutivelmente o preço desta matéria-prima prioritária? É um fartar vilanagem, a pretextos vários, ditos democráticos, e com desígnios inconfessáveis. Nunca como actualmente se vendeu tanto armamento, com os americanos, franceses e ingleses à frente destas contas orçamentais militares hiperlucrativas.